ESTIMATIVA DE GASTOS PARA DETECÇÃO DE ANTIBIÓTICOS NO MEL: UMA PROPOSTA PARA EVITAR O EMBARGO AO PRODUTO BRASILEIRO (em fevereiro de 2006)

Última Atualização 04/ 7/ 2007





Resumo
Calcula-se a despesa de US$17511,80 total em equipamentos e reagentes para realizar 1000 testes de antibiótico em mel a fim de atender as exigências da União Européia. Discutem-se brevemente alguns outros indicadores selecionados e divulgam-se os principais exportadores mundiais de mel.

Abstract
The total expenditure of  US$17511,80 for equipments and reagents is calculated to perform 1000 tests of antibiotic trace analysis in honey in order to attend the demand of the European Union. A short discussion of some other selected indicators and the presentation of the main world exporters of honey is included.

Introdução

Apresenta-se a previsão de gastos para realizar os testes químicos de antibióticos exigidos pela Comunidade Européia num lote limitado aqui a 1000 amostras de mel, mais alguns indicadores de qualidade e uma especulação de possível valorização do mel.  Apesar de existirem no Brasil laboratórios credenciados para análise de resíduos biológicos no mel segundo ANVISA (2006), desconhecem-se metodologias e detalhes de trabalhos de determinação de antibióticos no mel realizados no Brasil e certamente será conveniente desenvolver ou adaptar metodologias de cromatografia líquida de alta eficiência para determinação de multiresíduos.
O Brasil destaca-se no cenário mundial de produção de mel com produção estimada em 32 mil toneladas em 2004, e faturamento de 360 milhões de dólares anuais, sendo que o potencial pode atingir o triplo deste valor, de acordo com Kiss (2006).
O clima tropical propicia grande diversidade biológica existente no Brasil, com características especiais de flora que, aliado à presença da abelha africanizada, permitem atingir excelência na atividade apícola, ainda sub-explorada, conforme Gallo (2002).
Hoje, esta atividade é praticada em maior ou menor proporção em todos os estados do Brasil. De fato, os embargos dados à Argentina e China em 2002, dois dos principais fornecedores mundiais, impulsionaram a produção brasileira segundo Neto e Neto (2005).
A execução de testes de precisão sobre possíveis resíduos em amostras de mel diminui a possibilidade de questionamento por parte de clientes que podem declarar um embargo como o da União Européia conforme MAPA (2006).
Além de pesquisar resíduos, o controle de qualidade confirma as declarações de procedência geográfica do mel, identificando componentes que lhe conferem propriedades especiais e a conseqüente comercialização a preço mais elevado, segundo Ruoff e Bogdanov (2004).

Apresentação de indicadores e argumentos

A atualização do Programa Nacional de Controle de Resíduos (PNCR), para o exercício 2006 prevê o monitoramento de 19613 amostras, ou seja, mil amostras a mais que em 2005, conforme MAPA (2006).
A seleção de análises dada abaixo compõe um certificado de qualidade do mel, embora apenas estas análises não sejam suficientes para atestar a qualidade total.
Análise de resíduos de hidroximetilfurfural (HMF). A concentração de HMF em mel aumenta devido a tratamento térmico ao qual o mel é submetido por alguns produtores segundo Ruoff e Bogdanov (2004).  Segundo a FAO/WHO (2001) apenas até 80 mg/kg de HMF em mel é permitido em locais de clima tropical. De acordo com Kalabova et al (2003), HMF surge da decomposição de açúcares e devido a sua reatividade diminui o valor nutricional do mel. Para analisar HMF emprega-se a cromatografia líquida de alta eficiência, CLAE com detector de absorbância na faixa de luz ultravioleta (UV), com comprimento de onda de 285 nm, conforme INMETRO (2006). Bogdanov, Martin e Lüllmann (1997) obtiveram melhores resultados com teste de HMF via CLAE.
Análise de resíduos de agrotóxicos. Este tipo de contaminação pode também ocorrer acidentalmente, devido a manejo inadequado de agrotóxicos utilizados na agricultura em geral. A determinação destes resíduos é realizada com a Cromatografia Gasosa (CG), com purificação prévia da amostra mediante extração em fase sólida com octadecil sílica, (C-18). Para a análise de resíduos organoclorados, em concentrações próximas a 25 mg/L a técnica indicada é a cromatografia gasosa com detector de captura de elétrons conforme Müller (1996). Blasco et al. (2003), utilizaram detector de espectrometria de massas (MS) e detector de nitrogênio-fósforo para análise de resíduos de agrotóxicos organofosforados mediante CG e cromatografia líquida com detector MS com ionização à pressão atmosférica para analisar compostos mais polares. A extração com fluído supercrítico segundo Lanças et al. (1997) para o preparo das amostras de mel apresenta a desvantagem de poder formar, dependendo do tipo de mel, uma espuma semelhante a uma emulsão, prejudicando o isolamento dos compostos de interesse Müller (1996).
Análise de resíduos de metais pesados. Utiliza-se a espectroscopia de absorção atômica para determinar contaminações de metais pesados em amostras. Porém este teste deve ser utilizado com restrições tendo em vista que foi comprovado que mel não serve como indicador de contaminação de metais pesados como cádmio, cromo e chumbo em mel produzido por colméia localizada em ambiente com atmosfera poluída como a cidade de Roma, de acordo com Conti e Botre (2001).
Análise do conteúdo de umidade. A maturação do mel no ambiente natural da colméia permite a evaporação de parte da água no tempo devido. O conteúdo de água no mel não deve ser maior do que 20 %, e neste caso o mel terá índice de refração 1,4865, medido com refratômetro de Abbé segundo Bogdanov, Martin e Lüllmann (1997).
Análise do conteúdo de açúcares. A concentração de frutose e glicose em mel não deve variar além de 5 % a 10 % m/m, dependendo do tipo de flora original, segundo FAO/WHO (2006). A determinação de açúcares, capaz de caracterizar o mel segundo a florada é efetuada por CLAE, com gradiente de fases de água e de NaOH 0,5 mM e eletrodo de ouro ou derivatizando a amostra liofilizada para tornar os açúcares voláteis e detectáveis com cromatografia gasosa e detector de ionização de chama conforme Cotte et al. (2003).
Análise de resíduos biológicos. A contaminação biológica surge devido a remédios misturados com alimento artificial oferecido às abelhas nos invernos frígidos de regiões não tropicais como suprimento alimentar para compensar a insuficiência de flores. A determinação de 3 sulfas em concentrações de 0,2 mg/kg em mel foi realizada na Polônia por CLAE, com detector de fluorescência e amostras purificadas com C-18 segundo Posyniak et al. (2003).
Tendo em vista que a determinação de resíduos de antibióticos em mel era um tipo de controle que não vinha sendo realizado no Brasil, os autores deste artigo focalizaram exclusivamente a previsão de gastos nesta modalidade analítica, apresentada no modelo a seguir. O modelo de gastos com análise de resíduos biológicos conforme resumido na tabela 1 prevê 1337 horas de trabalho para preparo de 1000 amostras e 761 horas de operação em CLAE, com este modelo a despesa com reagentes alcança US$5272,80.

Tabela 1- Cronograma de trabalho, adaptado de Posyniak et al. (2003).
Dias Horas Tipo de teste mL  de Solvente 

Unidades C18

Preço US$
189 1337 Pesquisa, padronização, preparo de amostras, 1000 testes rotineiros,20 recalibrações  Tampão 18600
Acetonitrila 6000 
C18 =1200
Tampão 565,44
Acetonitrila 316,80
C18=2848,80
TOTAL=3731,04
96 761 2400 corridas cromatográficas Ac.Acético 27864
Acetonitrila 13176
Ac.Acético 846,00
Acetonitrila 695,76
TOTAL 1541,76

O equipamento previsto foi resumido na tabela 2, o gasto com este equipamento totaliza US$12239,00, sem considerar as taxas de importação.

 Tabela 2- Gastos em equipamento.
Equipamento  Preço US$
CLAE com detector ultravioleta  9500,00
Balança, Banho ultrasom, Coluna cromatográfica (preço médio) 2739,00
Total
12239,00

Considerações finais

 Como mostrado na figura1, o Brasil é o quinto país entre os maiores exportadores de mel, com 21029 toneladas exportadas em 2004, de acordo com FAOSTAT(2006).


Figura1. Exportadores de mel, toneladas exportadas, valor total e valor por kg em 2003 e 2004. Para observar esta figura o Navegador ou IE precisa estar habilitado para Java.

A Alemanha é o maior importador de mel do mundo com 88958 toneladas importadas em 2004, ao preço de US$2,59/kg, 29 % mais caro do que o preço pago pelo segundo maior importador conforme FAOSTAT(2006) e este mesmo país exportou no mesmo ano mel a preço 55,6 % mais elevado, de acordo com a figura 1. Pode-se especular que a certificação do mel atrai a clientela que consome diretamente o mel e está disposta a pagar pelo alto preço da informação.
Para que o Brasil consiga produzir mel com melhor qualidade e em maior quantidade será conveniente também estabelecer um programa de esclarecimento aos pequenos produtores para que estes consigam vencer obstáculos, quais sejam, o atendimento às legislações sanitárias, a inexperiência com ferramentas de gestão de qualidade, dificuldade de conseguir assistência técnica, capacitação inadequada, desconhecimento do processo e do mercado conforme Silva e César (2004). O controle analítico do mel poderia ser realizado pelo Ministério da Agricultura e o custo adicional repassado aos clientes e também parcialmente subvencionado por um sistema de multas aplicadas aos apicultores que fornecem mel com irregularidades.
 O resultado deste trabalho mostra que a estimativa do gasto total da pesquisa à rotina para executar 1000 amostras de análise de resíduos biológicos em mel atingiria o valor de US$17511,80, desconsiderando taxa de importação, além do pagamento de aproximadamente 1337 horas de mão de obra especializada.
 Considerando o elevado benefício em relação ao baixo custo envolvido, a execução dos testes na produção de mel é indicada.

Referências bibliográficas

ANVISA. Laboratórios por ensaio pré-selecionados para participarem do programa de Programa de Proficiência Anvisa-MAPA-IPT-FINEP.Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/reblas/cooperacao/pre_selecionados_proficiencia.pdf>.Acesso em 28 de novembro de 2006.

BLASCO, C. et al. Asessment of pesticide residues in honey samples from Portugal and Spain. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington, v. 51, n. 27, p. 8132-8138, 2003.

BOGDANOV, S.; MARTIN, P.; LÜLLMANN, C. Determination of hydroxymethylfurfural after White. Apidologie Extra Issue, Paris, 1997.

CONTI, M. E.; BOTRE, F. Honeybees and their products as potential bioindicators of heavy metals contamination. Environ. Monit. Assess. Netherlands, v. 69, n. 3, p. 267-282, July 2001.

COTTE, J.F. et al. Application of carbohydrate analysis to verify honey authenticity. Journal of Chromatography A, Amsterdam, v.1021, n. 1-2, p. 145-155, dec. 2003.

FAO/WHO. Revised Codex Standard for Honey. Disponível em: <http://www.codexalimentarius.net/web/standard_list.do?lang=en>. Acesso em 31 de março de 2006.

FAOSTAT, Food and Agriculture Organization. Key statistics of Food and AgricultureExternal trade. Disponível em: <http://faostat.fao.org/faostat>. Acesso em 30 de janeiro de 2006.

GALLO, D. Entomologia Agrícola. São Paulo, Piracicaba/SP: 2002.

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LANÇAS, F. M. et al. Novas aplicações de sistemas SFE “home made”. IV Qualidade dos alimentos. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas/SP, v. 17, n. 4, p.432-436, dez. 1997.

MAPA. UE confirma embargo ao mel brasileiro. Disponível em:<http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em 31 de março de 2006.

MÜLLER, R.A., Análise de resíduos de pesticidas em mel. Tese (Doutorado em Química Analítica), Instituto de Química, USP, São Carlos, 1996.

NETO, F.P; NETO, R.M.A. Principais mercados apícolas mundiais e a apicultura brasileira. Revista Mensagem Doce, São Paulo, n. 84, p. 2-23, nov. 2005.

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RUOFF, K.; BOGDANOV, S. Autenticity of honey and other bee products. Apiacta, Roma, n. 38, p. 317-327, 2004.

SILVA C. A. B. da; CESAR A. da S. A viabilidade da agroindústria familiar. Revista Agroanalysis, São Paulo, n. 2, p. 43-45, fev. 2004.
 
Roberto Andrea Müller
Professor Adjunto do Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa, 
DS em Química Analítica, MS em Química Inorgânica
Aldara da Silva César
Pesquisadora autônoma, graduada em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa 
Silvia Kanadani Campos
Analista em Ciência e Tecnologia, Ministério da Ciência e Tecnologia, MS em Economia Aplicada, Universidade Federal de Viçosa

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Tabela de temas.
Apresentação
Química Analítica Análise orgânica elementar
Análise volumétrica, simulação
Cromatografia
Embargo e antibióticos em mel, artigo formal
Cristalografia Ausência do eixo pentagonal em cristalografia 
Cela unitária em retículo hexagonal
Cinco classes do sistema cúbico
Cinco classes do sistema romboédrico
Conversor de coordenadas esféricas em projeção estereográfica
Cristais geminados
Determinação de cela unitária
Do tetraedro ao prisma
Duas classes do sistema triclínico
Eixo binário e plano de simetria em projeção estereográfica
Eixo de rotoinversão de ordem 4 no tetraedro
Eixo de transrotação ternário
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